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Representações, Desenhos e Imagens do Território

Neste livro, trazemos cinco conferências que procuraram apresentar uma diversidade de entendimentos sobre o território, expressas através das mais variadas formas a que chamamos, no sentido lato e até metafórico, de imagens.

  • Edição
  • Vasco Cardoso, Mário Gonçalves Fernandes e Carlos Rodrigues
  • Ano
  • 2021
  • isbn | issn
  • 978-989-9049-19-2
Representações, Desenhos e Imagens do Território

Editorial

Em 2018 a Universidade do Porto, no âmbito da inovação pedagógica, lançou um programa de alargamento da oferta formativa da instituição, com a criação de Unidades Curriculares (UC) lançadas na promoção da edificação de saberes e competências transversais – as chamadas Unidades Curriculares InovPed. A este programa candidatam-se, anualmente, grupos de docentes de diferentes faculdades com propostas de UC focadas em temas claramente transversais, para serem debatidos desde diferentes pontos de vista. A experiência educativa que na altura candidatámos nasceu de um encontro entre vontades de estudo sobre o território, suas representações e suas imagens, que emergiram nos Departamentos de Desenho, Geografia e Engenharia Civil da Universidade do Porto – criámos a Unidade Curricular InovPed “Representações, Desenhos e Imagens do Território” (já na sua 3.ª edição).

A Unidade Curricular InovPed “Representações, Desenhos e Imagens do Território” é uma experiência ao nível da pós-graduação que ultrapassa as fronteiras das disciplinas, inscrevendo diferentes abordagens sobre o território. Neste quadro, o Desenho surge enquanto construtor de imagens reveladoras de representações, de identidades.

Procura-se que a “Representações, Desenhos e Imagens do Território” seja um laboratório no âmbito do qual, quer docentes, quer discentes, são investigadores, partilhando conhecimento, experiências, estabelecendo e seguindo rumos investigativos e estruturando parâmetros avaliativos dos processos. Procura-se que seja um laboratório para questionamentos, para a integração das várias representações que cada um tem ou constrói sobre o território. Neste sentido, o território forma identidades, mas também é formado pelas identidades. Ambiciona-se com esta UC promover o conhecimento das diversas identidades, pelas suas diversas representações sobre o território, a partir de imagens, para a construção das quais o Desenho foi determinante. A variedade será muita; a UC é um espaço partilhado, é um espaço de integração, é um espaço comum. Esta metáfora sublinha um entendimento do território, entendimento esse do qual queremos ser promotores: quanto mais e melhor conhecermos as representações – e suas expressões – que cada um edifica sobre o território, melhor estaremos aptos a viver em comum e em respeito, em pertença. O território é uma entidade vital, comum, partilhada; o espaço relacional e dinâmico onde se debatem diferentes dimensões da vida humana, a várias escalas e ao longo do tempo. Cremos o território como entidade plural e inclusiva. Estes valores humanistas acentuam o caráter culturalista das abordagens, valorizando o perfil interdisciplinar que só uma UC como esta permite.

Simbolicamente, mas não só, o grupo docente, vindo das Belas Artes, das Ciências Sociais e Humanas e da Tecnologia, partilha o Desenho enquanto ferramenta de indagação, especulação, de experimentação, de crítica. São atividades com as quais se procura que os estudantes, das mais variadas origens, em comunhão, possam construir as suas próprias imagens sobre representações do território, em ambiente oficinal. Nesta esteira, importa sublinhar que, como laboratório que é, a UC promove, concomitantemente, cinco conferências por edição. São conferências abertas nas quais especialistas das mais variadas áreas do conhecimento vêm participar e partilhar com a comunidade as representações que, desde essas áreas, existem sobre o território, falando sobre imagens andaimadas pelo Desenho. Estas conferências abertas semearão nos estudantes perspetivas de exploração contribuintes para a construção dos seus projetos individuais.

Neste livro, trazemos cinco conferências que procuraram apresentar uma diversidade de entendimentos sobre o território, expressas através das mais variadas formas a que chamamos, no sentido lato e até metafórico, de imagens. Haveria outros entendimentos, outras representações, e haveria outras imagens, todos tão válidos como os explorados, pois o tema é vasto e denso. Para uma próxima edição em livro que continue este caminho temos já o registo dos contributos da Engenharia, Biologia, Filosofia, Urbanismo e do Turismo.

Nesta edição, começámos por apreender o caminho poético de um artista-caminheiro na sua corporização do território. Esse foi um caminho apontado pelo sulco que na sua memória ficou da experiência de corporização do território, tida pelos agricultores do Vale de S. José da Califórnia, durante a transformação que operaram nesse mesmo território.

Num segundo momento, explorámos o percurso dos procedimentos, técnicas e modelos de registo gráfico do território, desde um tempo mais empírico, muitas vezes carregado de simbolismos e de outras determinantes bem impositivas, até um tempo decorrente de uma crescente acuidade abstrata e científica.

O texto referente à terceira conferência aberta procurou mostrar como as práticas de desenho e construção do, e no, território articulam, inevitavelmente, diferentes, mas interdependentes saberes. E, embora o tivéssemos visto a partir da Geografia, a mais eclética convocatória de autores de referência, das mais diversas áreas do saber, foi propósito para ilustrar cabalmente o que procurava mostrar.

Um possível quadro acerca do entendimento que sobre o território tem quem governa e, de facto, quem decide, moldando-o, foi-nos trazido por um académico que pôde ter experiência governativa nas políticas de ordenamento do território. Por outro lado, sabendo-se que no momento das decisões políticas estarão presentes as representações dos governantes sobre o território, importou ao nosso convidado explorar os meios a que os especialistas podem aceder para melhor colaborar no processo conducente às tomadas de decisão.

Por fim, como bem escreveu o nosso convidado no título da sua conferência aberta, conheceremos do “contributo da Arqueologia”. Olharemos para participação do Desenho de Arqueologia, em geral, e nas principais escavações no âmbito do Campo Arqueológico de Mértola. Vimos como ambos podem alicerçar entendimentos sobre a História dos territórios.

No final do livro deixámos a debate os trabalhos executados pelos estudantes – o melhor testemunho dos problemas que se nos colocam. Pretende-se discutir o investimento que passa pela ação educativa e investigativa sobre o território, focadas na reunião de saberes, uma ação que edifique, ou que ilumine, sentidos transversais no conhecimento.

À entrada neste período de pandemia houve tempos que se alteraram, outros que se sobrepuseram, outros ainda que deixaram de existir, mas, também, outros que se criaram. No tempo tomado para a consecução deste livro houve a oportunidade de submeter e levar a debate a Unidade Curricular InovPed “Representações, Desenhos e Imagens do Território” da Universidade do Porto – uma experiência educativa centrada no território, olhado pelo Desenho – ao 7.º Encontro Internacional sobre Educação Artística (7ei_ea), em Cabo Verde. Com esse contributo, ganhou-se a oportunidade de recompor este editorial, contando com palavras de um outro escrito, uma nova reflexão.

Acresce ainda o importante facto de este ter sido também tempo em que se construiu, dentro do Departamento de Desenho da Faculdade de Belas Artes, um projeto de investigação, sediado no Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade (i2ADS) e denominado “DRAWinU – DRAWING ACROSS UNIVERSITY BORDERS – Learning, Researching and Communicating through Drawing in the University” [PTDC/ART-OUT/3560/2021]. A investigação, financiada pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, será levada a cabo por uma equipa pluridisciplinar e estendida por parcerias com outras áreas do saber. Realizar-se-á um estudo sobre o uso do Desenho nas diferentes unidades de ensino e investigação da Universidade do Porto, problematizando o seu papel como conhecimento que atravessa, unindo, diferentes práticas e conhecimentos.

Quer a UC, quer as suas conferências abertas que hoje se publicam, foram sendo construídas com lastro no projeto de investigação participando e partilhando focos de atenção do problema investigativo do projeto, sendo hoje um dos seus produtos e trabalhando-se para que possa ser um contribuinte para os resultados a alcançar.

Em momento de conclusão é com muita alegria que agradecemos aos nossos oradores convidados, Matthew Rangel, Inmaculada López Vílchez, Jorge Gaspar, João Ferrão e Virgílio Lopes, mas também aos nossos estudantes.

Do mesmo modo, agradecemos à Universidade do Porto e às suas Faculdades de Belas Artes, Letras e Engenharia, bem como aos Centros de Investigação envolvidos no projeto e os financiadores desta publicação: Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade (i2ADS), Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) e ao Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente (CITTA).

Gostaríamos de sublinhar que estas conferências foram possíveis graças aos fundamentais apoios dos nossos patrocinadores, a quem muito estamos reconhecidos: a Universidade do Porto, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia e a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

E por fim, agradecemos às entidades que nos receberam, que acolheram as cinco conferências abertas à comunidade, nesta vontade de partilhar conhecimento pela cidade: a Biblioteca Pública Municipal do Porto, o espaço Mira Fórum, Porto, a Ordem dos Arquitetos – Secção Regional do Norte, a Ordem dos Engenheiros – Região Norte e a Biblioteca Municipal Almeida Garrett.


Vasco Cardoso, Mário Gonçalves Fernandes e Carlos Rodrigues