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PSIAX #2 — Série II

Os conteúdos desta edição da Psiax resultam de um Encontro para a apresentação e debate de questões que orientam o campo epistemológico da investigação em desenho.

  • Edição
  • José Maria Lopes, Miguel Duarte e Vítor Silva
  • Ano
  • 2013
  • isbn | issn
  • 1647-8045
PSIAX #2

Editorial

O projecto Atlas & Vocabulário do Desenho, do Núcleo de Investigação em Desenho (i2ADS), decidiu promover, em Março de 2012, um Encontro para apresentar e debater algumas questões que orientam o campo epistemológico da investigação em desenho. Os resultados deste encontro, organizado por José Maria Lopes, Paulo Luís de Almeida e Sílvia Simões, contribuíram, no essencial, para estruturar os conteúdos de mais uma edição da revista Psiax.

Em certa medida, os motivos que se associam ao propósito do projecto A&VD confirmaram a existência de distintas abordagens, bem como a disposição de diferentes argumentos a partir dos quais de articula, sintomaticamente, a controversa ambivalência interpretativa das imagens.

Para além da apresentação do projecto A&VD, as comunicações dos participantes tornaram evidente uma diversidade de problemas metodológicos e críticos. A dupla implicação entre mostrar e “demonstrar” pôs necessariamente em jogo uma disparidade de reflexões quer oriundas da experiência artística quer transversais a diferentes pressupostos teóricos. Entre o trabalho de mostrar imagens e os processos de conhecimento, as distintas comunicações procuraram não só relevar a existência singular das práticas do desenho como interrogar aspectos da cultura e da história do desenho.

Com esta edição procedeu-se a um alinhamento dos conteúdos das respectivas comunicações que coincide com uma ordem de trabalhos estabelecida aquando do Encontro. Em primeiro lugar, o breve texto de Pedro Maia e Vitor Silva tem por intuito apresentar as linhas gerais do projecto A&VD, sublinhando os aspectos fundamentais do seu programa, dos seus objectivos, conteúdos e processos de trabalho – os quais se encontram disponíveis a partir do site http://cargocollective.com/atlasvocabulario.

A incursão teórica e metodológica consignada aos processos genéricos de montagem permitiu a Vitor Silva abordar a forma do Atlas como um processo de investigação cuja origem se revê nos paradigmas estéticos do saber visual . A partir do nome acto, José Maria Lopes traça o percurso de um vocábulo intrínseco às práticas do aprendizado do desenho no contexto das academias de arte a partir do século XVIII. Por sua vez, Mário Bismarck procura responder ao nome de um gesto sintomático da expressão gráfica, a rasura, pondo a descoberto uma crítica implícita aos próprios processos de perfeição defendidos pelo ideal clássico. A incursão auto-etnográfica de Manuel Botelho constitui-se um testemunho da possibilidade e da necessidade em pensar as práticas do desenho do ponto de vista intrínseco da sua criação. Na comunicação de Artur Ramos, o exercício e a atenção dedicadas ao desenho de retrato comportam uma visão retrospectiva dos nomes e dos pressupostos técnicos da tratadística clássica bem como uma redescoberta dessa distribuição de significados e modelos expressivos.

A partir do nome natureza-morta e da sua relevância enquanto tema genérico da arte do desenho, Luís Lima questiona a historiografia do nome detectando na sua nomeação uma incorporação de problemas que lhes estão associados. Partindo da noção de marca, Miguel Duarte investiga no âmbito da pedagogia e do ensino os procedimentos de disseminação dos sinais gráficos e os da sua articulação perceptiva. Por fim, considerando a prática performativa dos desenhos de Brüs, o breve ensaio de Paulo Luís Almeida debruça-se sobre o caráter da experiência do corpo enquanto projecto da notação expressiva.

Uma semana após os encontros, Joaquim Vieira escreveu Berlindes 1, um conjunto de comentários sobre as diversas comunicações, publicado de imediato em http://cargocollective.com/atlasvocabulario/Berlindes-1-Joaquim-Vieira, constituindo uma visão envolvente e participada sobre a pertinência dos diferentes problemas colocados. Remetemos, pois, o leitor para esse texto por constituir um ponto de vista complementar sobre o Encontro.

Para além dos textos das comunicações do Encontro#1, publicamos três outros artigos: de Paulo Freire de Almeida, um estudo sobre a experiência “visuo-motora” e a expressão gráfica da mancha nos desenhos de Seurat; de Ana Rodrigues, uma análise comparativa entre imagens da pintura de Hammershoi e a linguagem arquitectónica de Adolf Loos, a partir da qual se investiga, numa lógica de continuidade histórica, e estética modernista.

No final, com o título genérico Fermentação I, publica-se o resultado de um debate em torno da actualidade do desenho. Este debate que teve a participação de Paulo Freire de Almeida, Joaquim Vieira e Vitor Silva, apresenta algumas das questões e das respostas possíveis para a questão premente: porquê o desenho, hoje?

Como citar:

Silva, V., Lopes, J. M. & Duarte, M. D (Eds.) (2013). PSIAX #2 série II. FBAUP/i2ADS, FAUP, EAUM. https://doi.org/10.24840/1647-8045_2013

Sobre PSIAX

Porquê Psiax? Psiax é o nome de um dos pintores de vasos gregos que terão introduzido a grande mudança do desenho com a técnica das figuras vermelhas no início do século V a.C. Este é um dos mais notáveis aspectos da arte do desenho e da sua adaptação a uma necessidade tecnológica, empresarial, ritual e social, num dos períodos mais relevantes da cultura grega.

Se nos servirmos de uma analogia com a vida de Psiax na Grécia Clássica, e vivêssemos num período de figuras pretas, como se nos colocaria o quadro de inovação na representação da imagem nos artefactos que utilizamos dominantemente ou que poderão vir a ser utilizados? Ao ser produzido por meios digitais ou manuais, o que se inova e constrói? Como é que se acede a essas imagens? O que as caracteriza e como é que a representação ganha aspectos inovadores ou qualificadores da experiência artística?

A orientação editorial pretende promover e divulgar estudos sobre o papel que o desenho poderá desempenhar no nosso tempo, quer ele se concretize como processo de compreender o mundo, quer como meio de aprendizagem e ensino, ou como elemento caracterizador essencial dos objectos artísticos já existentes ou a criar.

Pretendemos dar a conhecer estudos sobre o desenho como imagem considerando que o desenho como arte plástica, manual ou digital, além de se constituir por um conjunto de elementos típicos e próprios da sua específica condição material, é, acima de tudo, uma imagem que ocupa lugares no universo infinito de outras imagens materiais, foto-químicas e electrónicas que hoje nos envolvem.

Importa ligar o passado do desenho - autores, modalidades, temas, tendências, escolas - com as urgências e o sentido de progresso e de ideologia, com as hipóteses que se levantam, com as necessidades que vão da sobrevivência ao sonho, recuperando a memória longínqua do desenho e conduzindo-a para uma actualidade em que se exigem novos entendimentos de uma arte básica do ser-se humano.

Interessa a publicação de estudos monográficos, analíticos, doutrinais, programáticos, metodológicos e críticos desde que se estabeleça, em qualquer dos âmbitos, uma relação entre o passado e o presente. Isto é, interessa colocar as diversas perspectivas em debate, em sintonia, em confronto, em paralelo, em analogia com os problemas, os esforços, as realidades, as obras e as teorias do nosso tempo, quer no domínio da pedagogia, da teoria e prática do desenho, quer no campo da expressão artística.

A Psiax integra uma chamada internacional de participações e revisão cega por pares. Adotando práticas que visam ampliar os contributos e sua consequente disseminação, reforçando a confiança científica e artística dos conteúdos apresentados, contribuindo para a qualidade da investigação realizada nestes domínios de conhecimento.