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Desenhos em desaparecimento de Mário Bismarck, é a terceira exposição do Ciclo de Desenho “O desenho contemporâneo em diálogo com a obra de Abel Salazar,” que almeja provocar o público a descobrir momentos de diálogo entre a obra destes dois artistas que encontraram no desenho de figura o instrumento ideal para desafiarem o meio e acima de tudo persistirem com as suas próprias vontades.
Neste conjunto de trabalhos expostos é evidente o tema comum. Num primeiro olhar, podemos entender a figura como protagonista, numa segunda camada de leitura a figura não passa de um pretexto.
Nos desenhos de Mário Bismarck salta-nos à vista a ideia de pose dissimulada, como se o corpo estivesse em contínuo movimento, em que se mexe e toca sem que ninguém o estivesse a observar. Momentos de intimidade que levam o autor a criar uma série de desenhos de pequeno formato como se de tentativas de captar o momento se tratassem. A velocidade do traço, a rapidez e fluidez da mancha evocam-nos para um universo voyeurista, em que o artista, de forma ávida, pretende captar o momento sem ser apanhado. Também nos desenhos de Abel Salazar podemos encontrar o recurso à pose para encenar movimentos sensuais em que a linha e a mancha de forma harmoniosa e silenciosa retratam o movimento. Em ambos os casos o modelo é secundário, o que importa é o corpo como pretexto e como vontade.
Mário Bismarck apresenta em paralelo um outro conjunto de desenhos, de maior escala com carácter mais concluído, se assim se pode dizer, e que no contexto da exposição poderão aparecer como consequência dos desenhos nos cadernos, onde podemos entender o desenho como operativo, um desenho que estuda e que prepara o que o autor encena criando-nos a dúvida quando esconde partes por de trás de “cortinas” de papel fragmentos do corpo nu. Estará o autor a tornar-nos cúmplices numa tentativa provocadora de nos colocar na posição de voyeur?
Se para Mário Bismarck o fragmento é uma forma de nos aproximar do “problema”, nos desenhos de Abel Salazar, onde vemos fragmentos de corpos, é uma forma de ele se aproximar do problema. Em ambos autores é evidente a forma como o desenho é importante para comunicar e mediar as ideias. Neste texto algumas pistas foram lançadas, cabe agora ao espectador criar as suas relações entre o trabalho dos dois artistas.
Sílvia Simões
Curadora do Ciclo de Desenho “O desenho contemporâneo em diálogo com a obra de Abel Salazar”