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Este número centra-se, assim, na combinação de diferentes técnicas de desenvolvimento laboratorial e produção de imagens fotográficas, nos conflitos decorrentes de diferentes naturezas tecnológicas e na reflexão sobre os processos colaborativos e pedagógicos envolvidos na produção de imagens sustentáveis.
O projeto Preto|Branco|Verde (PBV) dedicou-se ao desenvolvimento e criação de alternativas sustentáveis e ecológicas para a produção de imagens fotográficas. É uma ramificação de um outro projeto em implementação há vários anos, o Bioimages1, em consonância com o qual se definiram os dois eixos de atuação do PBV: o desenvolvimento tecnológico-laboratorial e o desenvolvimento artístico-educativo.
O primeiro eixo refere-se quer à pesquisa de técnicas de revelação baseadas na bioquímica – como o caffenol, com café, ou outros reveladores à base de plantas – quer à realização de ecobjets – dispositivos de captura e de produção de imagens – utilizando materiais sustentáveis ou reutilizáveis. Parte do desenvolvimento deste eixo ocorre através da investigação de técnicas e objetos pré-existentes e da sua exploração mediante propostas de criação e oficinas artísticas. Estas propostas ocorreram em diversos contextos: de residência artística, de atividades de enquadramento escolar e de colaborações com uma associação de desenvolvimento local e a sua comunidade próxima, dando-se, assim, corpo ao segundo eixo de ação no âmbito da educação artística.
Seguindo as abordagens axiais previamente identificadas, o PBV constituiu-se a partir de duas residências artísticas. Começamos com a Ecolab, com Yannick Röels (Cultureghem) e Emanuel Santos na qual se desenvolveu um laboratório portátil de revelação fotográfica. Na segunda residência, Diálogos, as artistas Rita de Almeida Leite e Yasmine Moradalizadeh, realizaram trabalho colaborativo artístico a par de diversas oficinas com grupos e com comunidades, com o apoio da Casa da Imagem, experimentando o laboratório portátil e outros objectos e técnicas desenvolvidas no projeto. Estas residências aconteceram de forma sequencial, tendo a primeira ocorrido de outubro de 2022 a janeiro de 2023 e a segunda de fevereiro a abril de 2023. Posteriormente, seguiu-se um período de exposição, partilha, divulgação, reflexão e consolidação dos resultados do projeto, estendendo-se até ao final de novembro de 2023.
Através destas áreas de actuação, com o PBV procuramos incorporar preocupações ambientais e abordagens alternativas à produção de imagens fotográficas seguindo uma perspetiva ecológica e colaborativa, orientada por uma visão crítica.
No contexto desta investigação sobre a ecologia das imagens fotográficas, consideramos importante explorar a arqueologia dos media juntamente com os eixos de ação acima mencionados. Nesse sentido, resgatar técnicas ditas ‘obsoletas’ para se misturarem com as tecnologias recentes revelou-se uma estratégia para descobrir alternativas sustentáveis de produção de imagens. Por outro lado, a obsolescência abre um território à experimentação artística que é interessante para considerar formas alternativas de produção ainda não vinculadas às restrições temporais e aos utilitarismos de um mundo mercantilizado estando, assim, mais próximas da criação. Consequentemente, as tecnologias actuais podem ser subvertidas através deste desvio para apoiar formas alternativas de produção. Em particular, o conflito entre ‘baixa’ tecnologia e ‘alta’ tecnologia é diluído num ambiente DIY maker em busca de outras formas de produção de imagens.
No decorrer do PBV, tentámos perceber tecnologias que permitam a investigação de processos mais sustentáveis, mas que simultaneamente expandam a discussão e a reflexão sobre o que fazemos, como fazemos e as consequências do que fazemos. Deste modo, o projecto moveu-se em ciclos de acção-investigação, em que as acções que experienciámos são objecto de reflexão para problematizarmos e configurarmos as abordagens seguintes.
Este texto centra-se, assim, na combinação de diferentes técnicas de desenvolvimento laboratorial e produção de imagens fotográficas, nos conflitos decorrentes de diferentes naturezas tecnológicas e na reflexão sobre os processos colaborativos e pedagógicos envolvidos na produção de imagens sustentáveis.
Tropismo fotográfico é uma residência artística, realizada no âmbito da Bienal de Fotografia do Porto, que se centra nas possibilidades de renovação do espaço que a acolhe, a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, revisitando a sua história e propondo um olhar crítico, particularmente distanciado, sobre as reconfigurações e proximidades deste espaço de ensino e criação.