Editorial I

A escrita como espaço de encontro

Neste novo número da revista Derivas – Investigação em Educação Artística dá-se continuidade ao propósito anunciado no anterior número. Esta é uma revista ocupada pelas pessoas dedicadas à investigação em Educação Artística, num trânsito entre o Doutoramento em Educação Artística (DEA) e o LabEA – Laboratório de Investigação em Educação Artística. Uma vez mais estão aqui reunidos os textos produzidos no Seminário de Escrita Científica do DEA. A equipa editorial agradece ao grupo de estudantes que assumiu a tarefa de organizar, editar, e desenhar este volume. A experiência da investigação estamos em crer que sai mais enriquecida quando é feita de forma partilhada e em conjunto. Passar, também, pelas diferentes fases da escrita e da sua edição visando uma publicação é uma experiência exigente e que obriga a inventar formas de trabalho, de negociação e de diálogo que nos permitem perceber melhor as dinâmicas estruturais que constituem o mundo académico que habitamos. Nós preocupamo-nos com que este mundo seja cada vez menos discriminatório e mais atento às suas zonas não pensadas. Este exercício desta equipa editorial convidada mostra-nos isso mesmo.

Fazer este número a várias mãos revelou-se uma prática de grupo. É, também, a forma encontrada pela equipa editorial para implementar e testar uma dinâmica realmente coletiva, em que o dar e o receber do grupo, em grupo, se torna central no processo. A questão de como funcionar coletivamente é, a bem dizer, algo que vem sendo abordado nos últimos dois anos nas unidades curriculares de Práticas de Investigação I e II. Aí tem-se procurado colocar a questão de como usar os recursos à disposição – pessoas do curso, tempos, e espaços da faculdade – para beneficiar do estar junto nos momentos curriculares que o programa doutoral oferece. Como tal, percebe-se a naturalidade com que tais preocupações se fazem presentes no âmbito da presente edição, nomeadamente nos seus modos de construção. Na continuidade do número anterior da Derivas, esta número 8 mantém, também, a vocação mais interna, de modo a poder permitir ritmos, regras, e limites acordados por dentro, sem as imposições da normatividade académica. Se se misturam aqui unidades curriculares é porque as fronteiras entre elas não fazem verdadeiramente sentido. A sua separação obedece mais a lógicas exteriores de disciplinação de um currículo, do que aos trânsitos, conversas, cruzamentos e sobreposições que acontecem nos encontros em tempos e espaços diferentes. A escrita é, também, esse espaço de encontro e de fazer alguma coisa em conjunto.

Este trabalho não é muitas vezes visível para quem está de fora e tem apenas acesso a esta coleção de textos. Se a Derivas procura hoje, de forma consciente, constituir um arquivo de trabalhos em curso em educação artística, sabemos que os arquivos têm muitos vazios. Alguns desses vazios só podem ser indagados e quebrados quando nos sentamos em conjunto a pensar sobre o que está e o que não está. As muitas horas de reuniões, de preparação, de discussão e os compromissos que foram sendo assumidos são talvez uma das facetas mais importantes desta revista e talvez uma das menos mostradas. Por essa razão consideramos que esta revista vai continuar para lá da publicação que aqui se materializa, e terá já a sua primeira discussão na sua apresentação pública. Que a conversa que aí se gera, traga também à tona os modos de trabalho, as dúvidas, as hesitações, o que não se conseguiu fazer, para que os nossos arquivos possam ser cada vez mais plurais, mais instigantes a um fazer que nunca se esqueça de perguntar-se acerca das suas condições de existência.

Desejamos a todas as pessoas leitoras boas caminhadas nestes textos e que surjam perguntas e conversas a partir deles.

Cat Martins, Catarina Almeida, Tiago Assis