O Porto está a passar por rápidas mudanças devido à ‘hipergentrificação’ após anos de subdesenvolvimento social sob medidas de austeridade impostas centralmente, que empobreceram os habitantes da cidade e os veem agora sendo expulsos das zonas centrais, enquanto esta se ressignifica como um destino turístico cultural. O custo do crescimento turístico é sem dúvida humano. Quanto mais a habitação é entendida como um investimento financeiro, mais provável é que aqueles que menos têm agora, menos ainda terão no futuro.
Outra questão em debate é a definição de cidade em si mesma, ou melhor, a distinção entre cidade e metrópole. Entendendo-se a cidade como tendo um carácter estático de espaço residencial com espessas camadas de história, herdeira da polis grega, e a metrópole, a cidade genérica, sem confins e virtual.
É neste contexto extremamente complexo, que o grupo de estudo Cultura | Cidade: Um Direito! Pretende operar, perguntando o que é hoje entendido como cidade e qual o papel da cultura na sua reformulação.
Neste segundo encontro teremos representantes de duas outras associações que têm levado a cabo uma importante reflexão política em torno das questões do urbanismo. Ângelo Ferreira de Sousa e Carla Cruz, da Associação de Amigos da Praça do Anjo (AAPA), e Margarida Felga e Pedro Figueiredo da Associação Simplesmente Notável, que organiza as Worst Tours, ambas sedeadas no Porto, nos ajudarão a investigar a relação das práticas culturais e artísticas locais e a mudança do tecido urbano e social no Porto – as oportunidades e impossibilidades, simbioses e contaminações, instrumentalização e desvios.
Usando estratégias próprias de ambas as associações, esta conversa será feita a caminho, isto é, usando um autocarro alugado para o efeito e andando, entre o Porto e Mafamude em Vila Nova de Gaia. O ponto de partida será na Rua Dr. Ferreira da Silva (Reitoria da Universidade do Porto), e terá como destino um lugar ermo em Vila Nova de Gaia onde em 2015 foi encontrada num aterro ilegal a lápide – criada pela AAPA – em memória de uma escultura pública furtada, evento que deu origem à associação em questão. O destino e o passeio são em si só pretexto para uma discussão sobre os temas do direito à cidade e democracia cultural.
Local de partida, às 14h30: Rua Dr. Ferreira da Silva, Porto (Reitoria da Universidade do Porto)
Local de retorno, às 17h00: Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto
Oradores/as convidados/as
Associação de Amigos da Praça do Anjo (AAPA)
Fundada pelos artistas visuais Carla Cruz e Ângelo Ferreira de Sousa. Sob a fachada desta associação de cidadãos – indignados com o furto de uma escultura em espaço público (em 2006, a Anja do Mestre José Rodrigues é furtada da Praça de Lisboa, Porto) – o duo promove, desde então, uma discussão em torno da crescente privatização do espaço público. Entre várias ações, destaca-se a organização, em 2007, das visitas guiadas às “ruínas” do espaço comercial onde a escultura estava colocada (em parceria com o Espaço Apêndice e com o intérprete Ricardo Gomes); O descerramento, em 2008, de uma lápide em granito em memória da escultura furtada, ao som de um Requiem composto pelo duo !Von Calhau!; a organização de um jantar comemorativo no parque de estacionamento do Clérigos Shopping; a criação de uma petição pública, em 2011, com o objetivo de recuperar a escultura furtada (que se encontra, ainda retalhada, sob responsabilidade do município, no palacete Visconde Balsemão); a tentativa, em 2015, de colocação de nova lápide no espaço comercial agora recuperado, e comissionado à BragaParques; a encenação de uma peça de teatro sobre a história da praça e da própria AAPA, no espaço da Mala Voadora, acompanhada pela publicação, em 2016, do guião da encenação no projeto editorial INLAND.
https://amigosdoanjo.wordpress.com/
The Worst Tours
Margarida Castro Felga e Pedro Figueiredo, são dois dos arquitetos fundadores da Associação Simplesmente Notável, responsável pela The Worst Tours, os passeios do piorio, que desde 2012 mostram um outro lado da cidade — aquele que não vem nos típicos mapas turísticos. Os passeios do piorio, iniciativa já com quatro anos e uns milhares valentes de quilómetros de rodagem, de três arquitetos da cidade do Porto – Margarida Castro Felga, Pedro Figueiredo e Isabel Pimenta – organizados numa associação, convida ao passeio e a discussão quem quiser aparecer. Esta associação visionária pergunta: E para além do turismo, o que vai o Porto estar a fazer daqui a 30 anos? Para quê viajar, se todo o lado cheirar, parecer, fizer sentir o mesmo? Para quê visitar zonas que só têm outros turistas? A monocultura do centro do porto (hostel, AL, tasca gourmet, hotel) não vai matar o turismo, a longo prazo? Quem pode viajar, é turista, e queríamos nós que houvesse também o direito à viagem. Podemos sempre ser turistas em casa, e ir para fora cá dentro, do Aleixo ao Lagarteiro, por vias travessas. Querem discutir propriedade, gentrificação, emigração, trabalho, centro, periferia, quarteirões, história, política. Isto é um debate ambulante e um convite à imaginação.
https://theworsttours.weebly.com/
Inscrições gratuitas, sujeitas à lotação máxima em: https://forms.gle/HxCCoNEyDP9kqwSR9
+ info: i2ads@fba.up.pt