Leges Artis, ou de ‘acordo com as regras da arte’, é uma expressão de relevância no contexto médico, pois inscreve os princípios que determinam as boas práticas a seguir. Num nível legal, o termo nomeia os princípios que orientam o modo de actuar dos membros da comunidade médica, informando e impondo os limites e as directrizes a seguir. Este manual pretende defender tanto os direitos dos utentes como dos que assumem a função de cuidar, num processo de regulação e regulamentação onde as partes devem ser tidas em consideração. Apesar do termo referir a palavra Artis, expressão em Latim para Arte, não se evidencia outra aproximação com o território particular da Arte, nem o contexto da Arte se orienta por tais conteúdos normativos.
Por sua vez, a Arte apresenta, na sua génese, o desejo da transgressão de qualquer lei, numa busca particular por estados de libertação. Porém, esta centra-se no aproximar, no envolver e no tocar, como processos focados tanto na linguagem, como sobretudo, na sensação.
Também ao médico é solicitado que se aproxime, que esteja envolvido e, em certa medida, que seja capaz de tocar, mais não seja, que consiga passar a mensagem de um toque, um toque de cura, um toque de vida.
Neste diálogo, entre as regras e as sensações, entre a doença e a vida, no contacto entre pessoas, a empatia poderá ser o ponto comunicante, numa dimensão que nenhuma regra poderá definir mas que não poderá ignorar, como comunicação das coisas visíveis e, sobretudo, das que não estão ainda à superfície mas que já se fazem sentir.
Arte e Medicina aproximam-se pelo gesto mais simples, a empatia, numa interpelação consecutiva entre pessoas, entre os que podem ter o poder da cura e aqueles que mais dela necessitam, procurando encontrar os elos conciliadores, mas sobretudo, observando o poder dos gestos que escapam a qualquer lei ou norma, mas sem indiferença. Neste diálogo se constrói uma exposição sobre o acto de tocar o outro, sobre a forma de experienciar esse gesto de interação cada vez mais raro, numa sociedade focada nas normas e não no que estas pretendem fazer, proteger e cuidar.
A arte olha a medicina, como a medicina olha a arte, na expectativa de que a comunicação seja fluida e continua entre todos os que participem nesta intervenção, aportando um olhar que vai do físico ao simbólico, do material ao invisível, da dor até à cura.
A exposição, com coordenação dos professores Domingos Loureiro, da FBAUP, e Sofia Baptista, da FMUP, reune obras de autores que frequentam a especialização de Pintura do Mestrado em Artes Plásticas, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Cada autor foi convidado a apresentar um olhar personalizado sobre o gesto clínico, onde dialogam territórios e expressões muito diversificadas. Cada obra, cada autor, são registos de um olhar exterior sobre a clínica, mas fortemente influenciado pelo senso pessoal, onde a experiência pessoal e a curiosidade, se entrecruzam com a vontade de tocar o outro, clínico e espectador.
Numa parceria com a Santa Casa da Misericórdia do Porto e com o Hospital da Prelada, esta exposição é um exercício de confluência e de distinção entre territórios que convivem e se distanciam, o da clínica e o da Arte, mas também entre o contexto hospitalar e os ateliês da Faculdade de Belas Artes, onde todas estas obras estiveram em gestação.
Leges Artis: o gesto clínico pelo olhar da arte, propõe-se como diálogo vísivel, conceptual e, sobretudo, sensorial, onde artistas e pessoal clínico, onde visitantes e utentes, onde cura e estética, se encontram e se interpelam. Na arte como na clínica, todos os gestos são relevantes, todos os gestos são marcas do saber e da expressão humana.
Autores:
Alexandra Barroso
Cláudia Pinto Campos
Duane Bahia Benatti
Jorge Cruz
Filipa Dominguez
Leandro Caram
Maria Pinheiro
Paula Craft
Raphaella Lima
Rute Pereira
Vieira Saraiva
Coordenação:
Domingos Loureiro (i2ADS/FBAUP) e Sofia Baptista (MEDCIDS/CINTESIS/FMUP)
Organização:
i2ADS / FBAUP / SCMP / Hospital da Prelada
Participação:
Estudantes do MAP – Pintura da FBAUP