catálogo
Em torno de coisa nenhuma procuro o lugar comum.
Há uma relação estreita entre a prática do desenho e a viagem. Com frequência, uma é a metáfora epistemológica da outra. Não é só porque viagem e desenho partilham um vocabulário comum, resultante da experiência do corpo enquanto se desloca no espaço à procura de algo, ou para fugir de algo. Ao fundamentar a compreensão de uma prática nos termos da outra, desenho e viagem tornam-se a base experiencial recíproca a partir da qual cada novo desenho e cada nova viagem são concebidos.
Esta relação ocorre em diferentes instâncias no desenho de Sílvia Simões. Não as viagens de roteiro programadas ao detalhe, mas aquelas que exigem tempo e estão, à partida, sujeitas à deriva, ao desejo de se perder e à imprevisibilidade a chegada. Viagens pelo deserto, por montanhas e em terras inóspitas ou isoladas como ilhas – porque sujeitas à consciência de um tempo lento e de um espaço intransponível – parecem tornar a prática do desenho mais necessária.
Extraído de
Ao longo de… através de…: A re-encenação da viagem no desenho de Sílvia Simões
Paulo Luís Almeida