As pessoas que depositam voz na palavra Desajustados #4, tocam-se pelas plantas. Por motivos, tempos, lugares, origens e destinos diferentes, as plantas também tocam estas vozes.

Neste sentido, os Textos Falados que aqui se apresentam são resultado da vontade de decalcar com palavras e imagens dois momentos importantes de investigação artística de Gabriela Carvalho, Miguel Costa e Rita Rainho: as “Parceiras Estranhas – Conversas com o algodão e a cochonilha” (Aula Mag- na, FBAUP) e as “Leituras Performativas sobre exploração e extração” (MIRA FÓRUM). Estes momentos experimentaram coletivamente abordagens per- formativas a partir das inquietações de cada corpo implicado pelas pragas,
algodão e outras plantas em diferentes contextos.

Essa zona de contacto foi possível a partir da configuração coletiva do pro- jeto-semente “O algodão e a resistência a partir de Cabo Verde – cultivo do pensamento e práticas artísticas para uma história do presente” (AR.CV), elaborado em 2021 por Gabriela Carvalho, Miguel Costa, José Paiva e Rita Rainho (coord), ID_CAI/i2ADS. Este foi um projeto criado em torno do pen- samento e das práticas artísticas a partir da plantação de algodão iniciada pelo coletivo Neve Insular (Rita Rainho e Vanessa Monteiro) em Cabo Verde,
integrando o seu poder histórico, e suas histórias de resistência.

No sentido de dar corpo à referida zona de contacto, foram ativados outros modos de partilhar as inquietações de Gabriela Carvalho, Miguel Costa e Rita Rainho: no Ciclo de Debates “Arquipélago, ilha #9: Plantas que se to- cam” (organização e participação de Miguel Costa e Rita Rainho, 2021); nas conversas “Enquanto falo: lavo, corto, pico e levo ao fogo. Uma conversa à volta da cozinha com Marta Lança e António Gouveia” (organização de Gabriela Carvalho e participação de Miguel Costa e Rita Rainho, 2022); e na programação “Neve Insular, 0,0003% – algodão e resistência” no Centro Cultural de Cabo Verde (organização e participação de Gabriela Carvalho,
José Paiva, Miguel Costa e Rita Rainho, 2023).

Ao longo destes diferentes encontros e confrontos de ideias têm sido experimentadas formas de colaboração e de construção de um projeto comum – enquanto espaço produtivo de conflito – a partir das inquieta- ções das pessoas envolvidas.