exposição

Meia laranja

As cheias do Porto marcaram historicamente a zona da baixa da Ribeira do Porto, bem como a área dos pescadores da Afurada. O mote para pensar esta exposição partiu da medida máxima atingida pela água das cheias nesta região.

  • 12 Julho 2024 —
  • 12 Setembro 2024
  • Centro Interpretativo de Afurada

“— Meia laranja?!
— A meia laranja é a parte do mar, a entrada do mar na foz. Até à construção do paredão da Foz havia cheias. E hoje, se retirassem o paredão …” (transcrição feita a partir de conversa e entrevistas feitas pelos artistas em 2023).

As cheias do Porto marcaram historicamente a zona da baixa da Ribeira do Porto, bem como a área dos pescadores da Afurada. O mote para pensar esta exposição partiu da medida máxima atingida pela água das cheias nesta região. Esta mesma linha surge integrada na exposição permanente do CIPA, e articula uma série de objetos que o CIPA coleciona e reflete a vida e as gerações de moradores da Afurada.

A exposição “Meia-laranja” propõe-se a refletir sobre esta linha como uma metáfora coletiva. Isto é, permite-nos pensar no nível como um vestígio visível do corpo de água que já ocupou aquele espaço e, simultaneamente, faz-nos refletir sobre o corpo das pessoas que experienciaram as cheias. “Por onde passava a água?” foi a pergunta feita a alguns membros da Afurada, refletida em alguns dos desenhos apresentados na exposição. Outros trabalhos abordam as cheias a partir de uma posição antropocêntrica — na qual o homem se vê invadido por um fenómeno natural. O corpo do rio representa a escala da natureza que se impõe sobre o espaço doméstico da Afurada.

A cor vermelha foi integrada na exposição com um propósito específico e de tentativa de resposta à questão: Como pode a produção artística contemporânea ser responsiva ao espaço em que se integra? Como artistas plásticos, as nossas preocupações estão atentas ao acesso de diferentes comunidades ao discurso presente da arte contemporânea. Mas trata-se essencialmente de um desafio grande que precisa, a nosso entender, de ser experimentado. Assim, devido à impossibilidade de retirar alguns dos elementos gráficos que marcam a sala de exposições do CIPA — como o extintor, os letreiros turísticos e as informações de sinalética de emergência —, estabeleceu-se que os objetos artísticos também iriam evocar o vermelho que associamos à emergência.