oficina, seminário

Arena 6

Ciclo de palestras e oficina a decorrer nos dias 10 e 17 de Outubro, das 16h00 às 19h00, na FPCEUP, que questiona a ideia da criança naturalmente criativa e imaginativa produzida e cooptada por práticas hegemónicas de educação artística até ao presente.

  • 10 Outubro 2022 —
  • 17 Outubro 2022
  • 4:00 PM
  • Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UPorto (FPCEUP)

ARENA 6, parte 1

10.10.2022 | 16h00

The Century of the Child, lecture performance

Cat Martins

A ideia de interpolação* tornou-se um problema através do qual temos vindo a discutir a plataforma online e os gestos de arquivamento/desarquivamento/intersecção/justaposição de eventos dentro do ‘arquivo da criança criativa’, construindo histórias que interrompam o presente e o passado. O ‘arquivo da criança criativa’ não é apenas uma colecção de materiais; é aí que a ideia da criança criativa foi/é produzida e naturalizada. Há um tipo de imaginação de outros futuros no nosso pensamento sobre a interpolação, pois tem a intenção de ‘sabotar’ este arquivo. Hoje chamamos-lhe trabalhar ‘com’ e ‘contra’ o arquivo. É importante reconhecer a violência, as colonialidades que estão na construção da criança criativa, para pensar de outra forma a articulação da criatividade e da infância. A história ‘The century of the child’ foi produzida como uma interpolação experimental.

* Entendemos a interpolação como um gesto de interrupção, intersecção, justaposição dos tempos e lugares. Rejeitamos, o sentido de interpolação automática de restituição calculada no espaço que abre. Pela interpolação, aproximamo-nos e aproximamos eventos que não estão próximos uns dos outros. Tornamos próximo aquilo que uma história imperial tornou distante, invisível, intocável, pela ordenação de tempos, espaços, sujeitos, etc. Na interpolação, até os polos se podem unir e através dela, também como uma intrusão dispõe o que interferimos e como essa interferência nos constitui como intrusos e interpolados. Em termos das acções neste projecto, trata-se da possibilidade de introduzir uma brecha, de abrir um espaço (sem ter de o preencher necessariamente) numa timeline, num programa, num glossário e assumir as consequências da nova disposição. A interferência, a abertura, vazia ou não, questiona a ordem, a linearidade, a categorização, possibilita desordens, tresleituras, sabotagens, fabulações críticas e outros gestos por vir. [do glossário CREAT_ED]

 

Apresentação do projecto A Historicização da Criança Criativa: estilhaçar o arquivo

Tiago Assis

Com esta apresentação pretendemos introduzir o projecto CREAT_ED: The Historicization of the Creative Child in Education com particular foco na sua plataforma de arquivo online. O projecto encontra-se em fase de desenvolvimento, contudo a sua plataforma permite estabelecer já fortes articulações entre ensino e investigação. Com o projecto CREAT_ED pretendemos compreender historicamente como a ideia de criança como sujeito criativo foi produzida. Para isso, no interior do projecto construímos uma plataforma web de arquivo onde carregamos diferentes materiais e referências que nos permitam examinar os discursos que fabricaram essa criança.

Neste sentido, a equipa de investigadores iniciou a construção da plataforma mas num contexto crítico de restituição e reparação. Para uma curadoria dos materiais neste contexto, estabeleceu-se como 1º objectivo um back office para a inclusão de uma série de referências (bibliográficas, imagens, vídeos) que pudessem ser filtradas, cruzadas e mapeadas. Num 2º objectivo pretendeu-se o mapeamento cronológico desses dados numa timeline. Contudo, a timeline tem sido uma forma de representação imperial que activa em si mesma a violência de uma história dos dominantes. Sendo um projecto que parte de uma lente anti-colonial, tornou-se necessário desenvolver outras formas de conversão, mapeamento e visualização da informação que permitam diferentes tipos de interacção e experiência dos investigadores, quer ao nível da inserção como de manipulação e visualização de dados.

Nesta apresentação pretendemos falar sobre todo este desenvolvimento da plataforma rumo a uma curadoria e crítica reparatória.

ARENA 6, parte 2

17.10.2022 | 16h00

Interpolações: trabalhar com e contra o arquivo da criança criativa

Cat Martins e Tiago Assis

Este workshop pretende trabalhar através de algumas fontes seleccionadas daquilo a que damos o nome de ‘arquivo da criança criativa’. Este arquivo é constituído principalmente por materiais publicados na Europa e nos Estados Unidos, desde o final do século XVIII até ao pós Segunda Guerra Mundial. Dentro desta teia discursiva, um certo tipo de criança está a ser produzido e cooptado por práticas hegemónicas de educação artística até ao presente. Esta é a criança naturalmente criativa e imaginativa. O nosso trabalho com e contra o arquivo visa desnaturalizar esta figura da criança, prestando atenção às colonialidades que essa representação activa e aos padrões de violência que se reproduzem quando esta criança é posta em cena sem qualquer tipo de questionamento.

Este workshop parte de um trabalho crítico e decolonial em direcção a práticas de educação artística que possam ser historicamente informadas, mais justas e anti-discriminatórias. A partir desta posicionalidade, iremos questionar estes materiais, tentando identificar os seus problemas e também pensar e construir estratégias para a sua desaprendizagem. Chamamos a esta acção, a interpolação do arquivo. O nosso objectivo é trabalhar com e contra o arquivo, para quebrar as estruturas de poder, opressão e violência que nele se inscrevem, como a possibilidade de outras práticas de educação artística.

Materiais a trazer para o workshop: tesouras, fita-cola, marcadores, papéis, post-it’s

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Cat Martins (pronomes neutros). Tem Licenciatura em Artes Plásticas- Pintura (Universidade do Porto), Mestrado em Educação Artística (Universidade de Lisboa), Doutoramento em Educação (Universidade de Lisboa). Os interesses estão voltados para a história da educação artística numa perspectiva da governamentalidade e decolonial. Actualmente coordena o projecto A Historicização da Criança Criativa na Educação.

Tiago Assis (ele) é licenciado em Design de Comunicação pela Escola Superior de Artes e Design, tem um Master em Produção Multimédia pela Universidade de Barcelona e é doutorado pela Universidade de Valencia. É professor e investigador na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto desde 2008. Actualmente, investiga sobre tecnologia ao nível do poder, da cultura, da identidade e da linguagem no i2ADS- Instituto de Investigação em Arte Design e Sociedade.